Pesquisa inédita no Brasil analisa o comportamento e a saúde mental da população infanto-juvenil
Por Nathalia Goulart
No Brasil, quase 15 milhões de pessoas com mais de 15 anos são analfabetas. Esta realidade interfere diretamente no desempenho escolar de crianças e adolescentes, segundo levantamento apresentado nesta sexta-feira pelo Projeto Atenção Brasil, que, pela primeira vez, analisou o comportamento e a saúde mental da população infanto-juvenil brasileira.
De acordo com a pesquisa, filhos de pais analfabetos ou que não terminaram o ensino fundamental têm uma chance até 480% maior de ter baixo desempenho escolar quando comparados a filhos de pais com curso superior completo. Segundo os pesquisadores, a explicação para a essa influência está no estímulo que as crianças recebem dentro de casa.
“Nossos filhos se espelham em nós. Como querer que um filho leia, se os pais não lerem? O cérebro da criança é uma cidade com ruas e avenidas abertas, se não são utilizadas, estimuladas, essas vias se fecham, e se fecham para sempre”, explica Marco Antonio Arruda, neurologista da infância e adolescência e coordenador do Projeto Atenção Brasil. “Sem estímulo para a cultura e o saber, nossos filhos terão mais dificuldade para desenvolver o senso do belo”.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o índice de analfabetismo quando consideramos os analfabetos funcionais – aqueles com apenas quatro anos de estudos completos – sobe para 23,5%. Em relação ao entrevistados pelo Projeto Atenção Brasil, 20,1% dos chefes de família são analfabetos ou não terminaram o curso primário, 20,5% têm o curso primário completo ou o ginasial incompleto, 18,3% o ginásio completo ou o colegial incompleto, 31,3% o colegial completo ou o curso superior incompleto e apenas 9,7% o curso superior completo.
Mauro de Almeida, neurologista e pesquisador, analisa a influência dos pais na educação dos filhos: “A cultura é um fator fundamental para a saúde mental e a cultura e a educação estão intimamente ligadas. Pessoas com problemas culturais – agravados pela problemática econômica e social – tendem a ter uma família que reflete essas mesmas características”, opina o médico.
Para evitar que o baixo grau de instrução dos pais interfira diretamente na educação dos filhos, os médicos recomendam o estímulo contínuo à educação. “Os pais podem até ter pouco estudo, mas bem orientados eles podem fazer com que os filhos entendam a importância da escola”, acredita Almeida.
O Projeto Atenção Brasil foi desenvolvido pelo Instituto Glia, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, com a colaboração de pesquisadores da Universidade La Sapienza (Roma) e do Albert Einstein College of Medicine (EUA). Os pesquisadores entrevistaram pais e professores de 9.149 crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos frequentando classes regulares do 1º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio em escolas particulares e públicas, de zona urbana e rural das cinco regiões do país. A partir dos resultados, foram identificados fatores de risco para a saúde mental e o desempenho escolar dessa parcela da população.
A amostra final da pesquisa foi de 5.961 crianças e adolescentes, pois foram considerados apenas os questionários completos, respondidos por pais e professores. O resultado da pesquisa será apresentado no III Congresso Aprender Criança, que acontece entre os dias 6 e 8 de agosto, em Ribeirão Preto (SP).
Fatores de risco – Além do capacidade de grau de escolaridade dos pais, o Projeto Atenção Brasil identificou outros fatores de risco que contribuem para o baixo desempenho escolas de crianças e adolescentes. Comparando-se meninos e meninas, eles têm 67% mais chances de obter notas baixas na escola que elas. Já entre crianças e adolescentes, os mais velhos apresentam 57% mais chances de obter mal desempenho que os mais novos. O uso de tabaco (74%) e álcool (47%) durante a gestação da criança também atrapalham na hora de garantir um bom desempenho na escola.
Fonte: Revista Veja Educação
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