quarta-feira, 11 de julho de 2012

Escolas estaduais do Rio têm 92% de alunos conectados, mas só 10% com hábito de ler



Pesquisa encomendada pelo governo estadual mostra que é baixo o percentual de leitura


RIO - A pesquisa “Escolas Estaduais do Rio do Janeiro – Percepções e Expectativas de Alunos”, encomendada pelo governo fluminense ao Instituto Mapear, revela que, apesar de 92% dos estudantes do ensino médio da rede estadual estarem conectados à internet, o hábito de ler não faz parte da vida deles. De modo geral, 14% dos 4 mil alunos consultados disseram não ter lido nenhum livro nos últimos cinco anos; um livro foi lido no período por 11% dos estudantes; dois ou três livros por 26% e quatro ou cinco livros por 17%.
Entre os alunos que leram mais que um livro em média nos últimos cinco anos, a pesquisa registrou que 14% leram entre seis e dez livros, 8% entre 11 e 20 e 10% leram mais que 20 livros em cinco anos.
A pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, divulgada em março deste ano pelo Instituto Pró-Livro, registra que, na faixa etária entre 5 e 10 anos, as crianças brasileiras leram 5,4 livros, no ano passado. Entre os pré-adolescentes, de 11 a 13 anos, a taxa de leitura ficou em 6,9 livros por ano e entre adolescentes de 14 a 17 anos (mesma faixa etária da pesquisa realizada no estado do Rio de Janeiro) foram lidos 5,9 livros em 2011.
O baixo índice de leitura entre os alunos do ensino médio da rede pública estadual fluminense pode ser atribuído a um fator histórico, segundo o subsecretário de Gestão do Ensino, Antonio Neto. Ele informou que 70% dos pais de alunos não têm o ensino fundamental completo.
— No ambiente familiar o aluno não encontra estímulo para a leitura — disse Neto.
De acordo com o subsecretário, nas famílias de classe média, que costumam assinar jornais e periódicos, os estudantes conseguem ter mais acesso a algum tipo de leitura:
— No caso das famílias mais pobres, nós não vemos isso. Vemos grandes dificuldades. O papel da escola passa a ser mais importante, porque é um quadro que tem que ser revertido desde os anos iniciais da educação — acrescentou o subsecretário.
A pesquisa foi pautada no ensino médio e mostra que a leitura tem que ser fortalecida desde os anos iniciais do ensino fundamental, “para que no ensino médio, o aluno tenha uma convivência com o livro muito maior”.
Segundo Neto, para fomentar ações que incentivem o gosto pela leitura entre os alunos, a secretaria estadual de Educação do Rio utiliza várias ferramentas. Uma delas, iniciada este ano, foi a Semana de Artes das escolas públicas estaduais, encerrada na último sexta-feira (6), no Píer Mauá.
A Semana de Artes foi resultado de trabalhos efetuados por escolas da rede estadual que envolveram várias linguagens, entre as quais música, dança, pintura, literatura, vídeo e teatro. Foram cinco dias de ações escolares, o que levou a secretaria a decidir ampliar o evento no próximo ano.
Outra ação de incentivo ao hábito de ler entre os estudantes é o Salão do Livro das Escolas Estaduais. O evento é anual e constitui uma oportunidade de as unidades escolares adquirirem novos livros para os estudantes. Cerca de 141 unidades participaram da última edição, que teve uma verba de R$ 8 milhões.
— É uma espécie de feira de livros, só voltada para nossas escolas estaduais. Por meio dos seus programas de leitura, as escolas vão a essa feira para melhorar o seu acervo de livros. Os professores fazem a seleção dos títulos, bem como os alunos dão sugestões, porque são eles quem vão conviver com esse ambiente de leitura — explicou o subsecretário.
Professores agentes de leitura começarão a atuar neste semestre
Novas ações estão sendo formatadas com o objetivo de serem introduzidas na rede de ensino em 2013. Neto esclarece que a secretaria não trabalha com o conceito de bibliotecas, mas de salas de leitura nas escolas. O acervo dessas unidades considera uma proporção média de três livros, “pelo menos”, por aluno, conforme determina a legislação atual para bibliotecas.
O subsecretário disse que só o livro na escola não resulta em uma ação de leitura. Para reverter esse quadro, a secretaria criou, no ano passado, a função de “professor agente de leitura”. Esse profissional começará a ser colocado nas escolas ainda neste semestre com a função de fomentar a leitura. Ele terá também a atribuição de criar estratégias para que o aluno “utilize e trabalhe com esses livros”.
Essa função se dará por adesão entre os professores. Neto explicou que o governo teve o cuidado de preservar a característica de regência, de trabalho pedagógico, ao contrário do que ocorre em alguns estados, em que o professor, ao exercer uma função fora da sala de aula, perde o benefício.
A ideia é levar a figura do professor agente de leitura, de forma gradual, a todas as 1.437 escolas públicas dos 92 municípios fluminenses.
— Nós queremos atingir todas elas. Mas esse é um passo gradual, porque nós temos uma deficiência de pessoal na rede ainda grande — disse Neto.

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