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Aquela tradicional sala de aula com
carteiras enfileiradas e candidatos de vestibulares ou concursos públicos
respondendo a questões em calhamaços de papel pode virar imagem do passado. Com
o avanço da tecnologia e algumas recentes adesões de peso, cresce a tendência
da adoção dos TACs (Teste Adaptativo Computadorizado), ou computer assisted
testing, em exames educacionais de grande porte.
No mês passado, o Cespe/UnB, principal
organizador de concursos públicos do país, anunciou que vai começar a usar, já
no segundo semestre deste ano, os testes adaptativos em concursos públicos e em
exames de certificação em escala nacional. No Inep, órgão do MEC responsável
por avaliações como o Enem e a Prova Brasil, e na Vunesp, que faz o vestibular
da Unesp e outros concursos, já há conversas em andamento sobre a viabilidade
de se utilizar os TACs.
Na prática, os testes adaptativos
funcionam assim: alguns polos com computadores são credenciados para receber o
software que contém os exames de determinado concurso ou vestibular. Os polos
podem ser escolas já equipadas com computadores. No dia da prova, o aluno vai
até um desses locais credenciados, senta-se diante de um computador e responde
às questões.
Primeiro, são apresentadas questões de
nível mediano; conforme o estudante vai acertando ou errando, o sistema
apresenta questões mais fáceis ou mais difíceis para medir seu nível exato de
proficiência naquela disciplina. Assim, as provas são personalizadas,
diferentes para cada candidato. "O teste é adaptativo porque cada pessoa
pode receber questões diferentes. Ele consegue determinar a proficiência de um
candidato de uma maneira muito melhor do que uma prova igual para todo mundo. O
sistema pega a resposta do candidato e faz um cálculo para ver qual é a próxima
questão que ele vai responder", afirma Dalton Francisco de Almeida,
professor do departamento de informática e estatística da UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina) e especialista no tema.
A correção dos testes adaptativos se
baseia na TRI, ou Teoria de Resposta ao Item, que já é utilizada em exames do
Ministério da Educação desde a década de 90, mas foi com a reformulação do
Enem, em 2009, que ela se tornou mais conhecida. Na TRI, antes de serem
aplicadas no dia do concurso, as questões são pré-testadas e classificadas
quanto aos seus parâmetros – nível de dificuldade, por exemplo – e essas
informações são inseridas no sistema. Com cada característica da questão
conhecida, é possível que provas aplicadas em dias diferentes sejam
comparáveis.
Segundo Almeida, a TRI ainda permite
que, pelo padrão de resposta do aluno, o sistema consiga saber se ele acertou
uma questão porque sabia ou por acaso. Com isso, o estudante que acertou por
acaso não deixa de pontuar, mas recebe menos pontos do que aquele que acertou
porque sabia. "A TRI cria uma medida para medir conhecimento. E
conhecimento é uma coisa cumulativa. Quando você aplica uma prova e sabe o grau
de dificuldade das questões, se um aluno apresenta um padrão de resposta no
qual ele acerta as difíceis e ele erra as fáceis, o sistema acha isso
estranho", afirma Almeida. O professor dá o exemplo de dois alunos que
acertaram 10 questões em determinada prova, mas o primeiro acertou as 10 mais
fáceis e o segundo, as 10 mais difíceis. Nesse caso, a TRI vai atribuir
pontuação maior ao aluno que acertou as mais fáceis do que ao que acertou as
mais difíceis.
Benefícios
Vantagens de se adotar o modelo
adaptativo, o TAC, segundo o Cespe, não faltam. Como as provas não são
impressas, economiza-se o que era gasto em transporte e impressão, além de se
preservar o ambiente. As provas passam a poder ser realizadas em datas
distintas e o resultado individual é conhecido assim que o candidato finalizar
o exame, acelerando o cronograma de resultados.
Em contrapartida, o modelo exige o
desenvolvimento de softwares específicos e a identificação de uma rede de
locais certificados para receber as provas. Segundo Almeida, porém, a adoção de
testes adaptativos até demanda um aporte de verba, mas esse valor acaba
compensando com o tempo. "Pode haver um investimento inicial alto, mas
depois isso se dilui", afirma, citando também a redução de custos e do
esforço nacional de segurança que provas como o Enem demandam.
Fonte: Estadão.com.br
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